O setor de construção civil, um dos que mais empregam no país, com 2,9 milhões de trabalhadores formais, vive o desafio de rejuvenescer. Com idade média dos trabalhadores de 41 anos, as construtoras tentam acelerar a digitalização e a industrialização dos canteiros de obras, além de oferecer salários mais altos, para atrair os jovens e, especialmente os mais qualificados, principal gargalo do segmento neste momento em que as vendas de imóveis novos batem recordes consecutivos. Algumas empresas do ramo até criaram escolas para treinar interessados e evitar atrasos na entrega dos imóveis.
— Com a economia aquecida e o desemprego no menor patamar histórico (6,6% em 2024), o desafio da construção civil é atrair, treinar e reter mão de obra. Este é o principal limitador dos negócios e preocupação central das empresas, segundo nossa sondagem — diz Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV/Ibre.
Fábrica vira escola
Lucas Moura, gerente de Gente e Gestão da Tenda, conta que a construtora teve de criar, em 2023, uma “fábrica-escola” nos canteiros para ensinar funções como acabamento, pintura e instalação de cerâmica, entre outras, como forma de profissionalizar jovens e atraí-los para a carreira. Os alunos se tornam aprendizes e podem ser efetivados. Foram treinadas 151 pessoas até dezembro do ano passado.
— Um dos principais resultados foi a reposição rápida de colaboradores, com impacto mínimo na linha de produção, pois o turnover (rotatividade nos postos de trabalho) ocorre dentro da escola, e não diretamente nas obras — diz Moura.
Outra forma de treinar profissionais é o programa de refugiados nos canteiros, lançado na pandemia, para contratar venezuelanos acolhidos em abrigos em Roraima após cruzarem a fronteira. O programa cresceu e atraiu pessoas de outros países, como Angola e Haiti. Matuvanga Mputu, de 41 anos, é um deles. Vindo de Angola em 2021, ele ficou num albergue em São Paulo por 8 meses, com dificuldades para encontrar emprego formal.
— Eu não era do setor, mas recebi treinamento na escola-fábrica e acabei sendo efetivado. Quero seguir carreira e chegar a analista — diz ele, que deixou a mulher e quatro filhos em Angola e deseja trazê-los no futuro, quando se firmar no setor.